21 de março de 2011

Colchas de Retalhos

Sou besta o suficiente pra guardar apenas as postagens com desenhos. Odeio perder meus desenhos, mesmo que eles sejam meio zoadinhos. Zaz, zaz, blábláblá.

Vamos aos fatos:

Depois dessa postagem, eu provavelmente não vou voltar a postar nesse blog por mais um ou dois anos (como da última vez, e da vez antes dessa), então olá e adeus para todos. Aos que não conseguirem viver sem mim, estou no orkut facebook, no twitter e na minha casa.

Agora, vamos ao que interessa:


Existem mundos que me encantaram. Personagens que me fascinaram. Aventuras que me emocionaram. Esses três fatores se uniram quando eu conheci Dragões de Éter (até agora são três livros), saga de autoria de Raphael Draccon (perdi as fotos tiradas com ele na bienal de 2010 em SP, ME MATEM!). Por isso, e apenas por isso, eu me esforcei e me ameacei de suicídio-homicídio (vide postagem anterior, das aquarelas) para terminar esse conto - é uma oportunidade de homenagear esses livros que me fizeram rir, chorar e querer morrer (FOTOS, WHY GOD, WHYYYY? Tribbiani mode off/).

Mortes, ameaças de homicídio-suicídio e blábláblá a parte, não acredito que eu vá vencer essa competição. Com alguma sorte, talvez eu consiga ficar entre os três primeiros - o que também vai ser difícil, visto o nível dos contos até agora. Mas eu posso sonhar. Afinal, é isso o que a saga inteira propõe. Sonhe.

Minha idéia surgiu da maneira mais pateticamente sad sad sad sad sad forever alone que pode existir: Eu queria escrever sobre as fadas amazonas, mas meu livro Círculos de Chuva está com a Lílian (LÍLIAN, SUA BESTA!). Eu quis escrever sobre algum dos outros reinos também, mas Corações de Neve também está com a Lílian (SEU REPOLHO BABACA!).

Restava então Caçadores de Bruxas. Enfim, que se dane, esse acabou sendo o primeiro conto que eu termino em mais ou menos um ano. Pra quem escrevia fanfics de setenta páginas, minha inspiração se foi, Dragões de Éter à parte.

Espero que alguém leia. Espero que todos entendam. Com 8 mil caracteres não dá pra ser muito explicativo, acredito que todas as referências necessárias ao entendimento estão no primeiro livro.

Enfim, bem vindos e se cuidem.

Esse conto se chama Dragões de Éter - Colchas de Retalhos... E fala sobre o dia em que a última pessoa quase se esqueceu.

Dragões de Éter
Colchas de Retalhos
Um Conto de Regina N Umezaki
Há várias de teorias tratando-se de semideuses, Criadores e criação. Umas dizem que semideuses são os intermediários entre Criadores e criações, outras que a criação é obra dos semideuses, e estes são obra do Criador. Há ainda as que se baseiam na crença de que fadas-avatares não são enviadas para testar indivíduos, mas para que Criadores, com a essência presa a um receptáculo, possam viver como mortais e entender o valor das criações em suas vidas breves.
Em especial, há a teoria que diz que se dois criadores se encontram e interagem, suas criações podem colidir, se misturar. Um mesmo personagem pode viver diversas vidas, situações e finais em paralelos criados por semideuses diferentes, mesmo não sendo estes em especial o seu criador. Uma flor, por exemplo, pode morrer no inverno em seu universo original, florescer na primavera de um paralelo ou ser vitimada por um reflexo de magia branca, tornar-se mulher e viver um conto de fadas numa terceira cena.
Isso pode tornar uma história imortal.
Muito tempo atrás, semideuses se encontraram. Universos colidiram, paralelos surgiram e mundos fantásticos existiram ao mesmo tempo. Flores viraram mulheres.
No entanto, tempo passou. As pessoas mudaram. Memórias se perderam.
E, o que aconteceu depois, eu vou contar agora.
Retalhos
Ariane Narin acordou sufocando um grito.
Já fazia dias que sonhos estranhos a atormentavam, mas estava acostumada. Coisas estranhas aconteciam em com ela. Era um fato inegável.
Aqueles sonhos, no entanto, a afetavam num nível mais profundo. Eram uma mistura de realidade e ilusão. Ela se achava estúpida por isso, mas tinha medo.
Agarrou o pingente de madeira pendurado no pescoço e respirou fundo.
Fechou os olhos. A princípio, não era difícil lembrar o que tinha acontecido no sonho. Ela andava por um corredor, abria uma porta e encontrava uma mulher que sorria de maneira distante. Ariane sentia o coração apertar ao lembrar, e percebeu que sofria tanto no sonho quanto na lembrança.
Soluçou. Começou a chorar silenciosamente e percebeu que aquela dor não era sua. No sonho, ela era outra pessoa, e havia algo terrivelmente errado com a mulher. O sorriso apagado, os olhos distantes, sentada numa cama de casal, mas com um único travesseiro. Havia um livro ao seu lado.
Ela se aproximou.
Uma única palavra saiu de seus lábios, num sussurro que rasgou a garganta.
“Mãe?”
Ariane abriu os olhos ao sentir uma mão em seu ombro.
-João?
Ele estava sério. Se bem que, até onde a jovem bruxa se lembrava, João era bastante sério desde os 14, 15 anos. Era apenas mais uma característica dele que ela amava.
Naquele momento, no entanto, ele estava sério demais. Sem dizer nada, puxou-a da cama e para fora da casa. O sol estava alto e as ruas, desertas. A curiosidade de Ariane vibrava.
-João! O que aconteceu? Por que a gente está correndo?
Ele a olhou enquanto viravam a esquina.
-Alguma coisa está errada.
Ela não duvidava. As ruas de Andreanne estavam desertas, um silêncio pesado e estranho cobria o ar. João continuava correndo, levando-a pela mão, sem destino.
“Para longe”, era tudo o que pensava.
-Cadê todo mundo?
-É o que eu queria saber. Eu estava conversando com a Maria e, de repente, ela não estava mais lá. Procurei Albarus, Andreos, minha mãe. Até o idiota do Farmer. Nada. A cidade está vazia.
Ela sabia que era improvável conseguir, mas fechou os olhos e buscou. Afinal, se ela sabia o que procurar – Maria, os gêmeos, o idiota Farmer... – ela podia encontrar, não podia?
Eram pessoas que ela conhecia. Maria era sua irmã, amiga, confidente. Conheciam a alma uma da outra. Conseguiria encontrá-la em meio a uma multidão, por que não em um lugar deserto?
Continuou correndo. Deixou que João a guiasse e fechou os olhos.
Agulha
“Mãe?”
Ela não a reconhecia. A mulher acariciava a lombada do livro no colo, sentada na cama, sorrindo para o nada. Apertava-lhe o coração e a garganta receber aquele olhar vazio, aquele nada de atenção, enquanto um livro recebia carinho.
Aproximou-se. Agarrou o livro, pronta para rasgá-lo, queimá-lo, chorar em cima dele até a dor passar. No entanto, as mãos – aquelas que acariciavam a lombada gasta, que folheavam histórias sem que olhos acompanhassem – agarraram com força seus dedos e as páginas antigas.
“Eu não posso esquecer.”, sussurrou ela.
“Você já se esqueceu. De mim, de nós, de tudo!”, Ariane respondeu, e não reconheceu sua voz.
“Eu não posso esquecer...”
-Ariane!
João olhava para ela, estupefato. Uma mistura de medo e desespero cobria o semblante antes tão sério.
Ariane olhou para os pés. As mãos. Seu reflexo perdido nos olhos dele.
Algo estava errado.
Como fotos antigas, seus dedos se esfarelavam. Como se ela fosse uma estátua velha demais, seus cabelos se partiram e se desfizeram em pó. Ela estava morrendo.
Ou, pior, estava sumindo.
Ela tentou falar, mas engasgou. Com medo, abraçou-o com força.
João agarrou-se a uma Ariane que mais parecia uma boneca esculpida em giz. Quando as pernas não suportaram o peso, ele se sentou. Quanto os olhos não seguraram as lágrimas, ele apertou-a com mais força, a despeito do medo de quebrá-la como se fosse porcelana frágil.
Ao redor deles, tudo começava a ruir e se desfazer como Ariane, e só o que ele conseguia fazer era abraçá-la.
Em silêncio e confusão, João esperou. As lágrimas escorreram, o medo cresceu. Ele tinha voltado dos braços de Beanshee por ela. Tinha vencido inimigos mais fortes por ser mais determinado... Por ela.
Chamando seu nome – um gesto tão simples - com força, com o coração e a alma, ela o tinha trazido de volta. Várias vezes.
E, quanto era ela a morrer – quando era ela a silenciar, ele deixava...?
Não podia ser assim. Podia?
Ele respirou fundo uma vez.
Duas.
Três.
E a chamou de volta.
E chamou de novo.
E de novo, até os pulmões arderem.
Numa Arzallum deserta, numa Andreanne em pedaços, ele gritou o nome de Ariane tantas vezes e com tanta força que sua voz poderia ecoar eternamente, como aquela que sussurrava através das parede do Majestade.
O corpo de giz se desfez. A fotografia gasta esfarelou-se. A porcelana quebrou.
E, junto com os ecos do último grito de João Hanson, também sumia Ariane Narin.
Linha
“O que eu não posso esquecer?”
Ariane olhou a mulher. Lágrimas rolavam da face envelhecida. O livro ainda estava nas mãos dela. E nas suas.
O coração da jovem bruxa batia acelerado. Por que continuava sonhando com aquela mulher? E como ela tinha ido para ali?
Lembrou-se de estar com medo. De estar nos braços de João, sentindo lágrimas quentes escorrerem do rosto de seu noivo-prometido para o seu.
E então estava ali.
Olhou a senhora sentada na cama, confusa.
Olhou o livro.
-O que você não pode esquecer? – perguntou, apenas por parecer o certo a fazer.
-Deles. – a senhora olhou o livro, triste.
-A senhora se esqueceu deles?
Ela fez que sim.
-Se ninguém se lembrar, tudo vai acabar.
Ariane sentou-se ao lado da senhora, novamente por parecer correto. Delicadamente, puxou o livro das mãos dela e abriu-o com cuidado na primeira página.
-Se eu ler, vai te ajudar a lembrar?
A senhora apenas sorriu.
Ariane sorriu de volta e, numa estranha tranqüilidade, saída de lugar algum, ela leu as primeiras palavras, quase num sussurro:
“Grandes poetas costumam chamar os países ou regiões de plaga”...
Colcha
-Ariane... Ariane... ARIANE!
E Ariane Narin abriu os olhos.
Seus cabelos, dedos e rosto – enfim, seu corpo – estavam inteiros. Ela estava nos braços de João Hanson, no abraço mais apertado do universo. As pessoas andavam, corriam e gritavam em volta deles.
Uma criança riu da cena inusitada que os dois proporcionavam aos feirantes de Andreanne.
-Ariane? – ele afrouxou o abraço, mas só um pouco. –‘Cê ta bem?
-Aham. – fez ela. – Só tem uma coisa.
-O quê? – naquele momento, qualquer coisa.
Ariane Narin disse, então, algo que o fez engasgar de vergonha e, por que não, medo:
-Você já me escreveu um poema?

2 comentários:

  1. Regina,

    Como você disse "Com alguma sorte, talvez eu consiga ficar entre os três primeiros - o que também vai ser difícil, visto o nível dos contos até agora." Com sorte, seria muito difícil, mas, com talento o sonho poderia se tornar realidade. Você sonhou, você escreveu... você conseguiu. Parabéns.

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  2. Parabéns, sério. Ficou ótimo, eu amei!
    Você mereceu o resultado ^^

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